Piões dos Gabili do Oiapoque

Os Galibi do Oiapoque migraram da Guiana Francesa para o Brasil nos anos 50. Originários da região do rio Mana, eles passaram a viver na margem direita do rio Oiapoque, no norte do Amapá. A maior parte dos Galibi vive na Guiana Francesa e lá são conhecidos como Kaliña.

PIAO

Os meninos galibi, Valdo e Donato, tentam fazer, como o pai os ensinou, o pião da semente da palmeira tucumã, que canta ao girar. Buscam primeiro as melhores sementes, fazem alguns pequenos furos, limpam e raspam toda parte de dentro, deixando-as totalmente ocas. Mas, infelizmente, os piões não giram e muito menos fazem som. Sem sucesso, guardam os piões nos bolsos e esperam a chegada da noite, quando o pai voltará da mata.

Miguel, o pai, analisa o pião dos filhos e anuncia que ensinará novamente, mas precisam esperar até a tarde do próximo dia.

Valdo e Donato moram na aldeia São José, que tem oito casas de madeira, rodeadas de mangueiras, cajueiros, cuias, jenipapo, tucumã, inajá, goiaba, entre outras plantas. Ali moram poucas crianças, que se mostram à vontade com as brincadeiras que aprendem na cidade de Oiapoque. Brincam com petecas e papagaios, mas não deixam de aprender com os mais velhos alguns brinquedos, como, por exemplo, o pião de tucumã.

No horário marcado, Miguel, sem dar explicações, faz o seu pião na frente dos meninos, que o observam e vão fazendo seus piões junto com o pai, sem falar, perguntar ou pedir ajuda.

Deu certo! Todos os piões começam a rodar e zunir quase ao mesmo tempo.

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A algazarra traz de longe o Seu Geraldo, o senhor mais velho da aldeia que não disfarça a alegria de ver seus netos brincando com aquele que era o brinquedo preferido da sua infância.

Reúne os meninos ao seu redor e conta como eram as disputas desse brinquedo na sua infância: juntavam várias crianças, cada um com seufane (nome desse brinquedo na língua Kaliña), e uma única rede de dormir. Quatro delas seguravam nas pontas da rede, deixando o tecido bem esticado. Todas as outras lançavam ao mesmo tempo seus piões em cima da rede, iniciando um torneio de fane. O objetivo do jogo era deixar o pião mais tempo rodando sem cair, ou sem ser lançado para fora da rede.

Ouvindo as histórias dos mais velhos, as crianças aprendem a fazer o brinquedo, que é passado de geração em geração.